Eu já estive apaixonada quatro ou cinco vezes na vida e não posso afirmar, com precisão, se um dia já amei um homem verdadeiramente. No fundo eu acho que não. Mas como saber o amor ?
Das paixões, eu creio que me lembre, pelo modo como terminaram. Doloridamente. Nem todas, mas algumas doeram muito. Doeram alma e corpo. Talvez tenham sido aquelas em que entrei com a bunda e meus "amados" com o pé, para tornar o "fora", mais humorado.
Algumas delas nem me lembro mais porque doeram tanto e as que me lembro, posso assegurar que a lembrança não é por apego, só é porque não temos o poder de apagar nossa memória com uma borracha imaginária.
Era primavera em Videira...
Às oito de um sábado ele tocou a campainha e eu não imaginava o desfecho. Tudo parecia normal, cheio de idas e vindas, como sempre, mas com final feliz. Já estávamos juntos havia quase quatro anos e eu conhecia os movimentos que, aos finais de semana o levavam e o traziam de volta. Mas aquele dia foi diferente, ele estava determinado, frio, com um olhar vazado, quase nulo, e, por mais que eu tentasse trazê-lo de volta daquele fundo onde parecia ter se escondido, eu não conseguia.
Passamos a metade da manhã conversando, encerrando aquela história que nos parecia interminável. Tentei fazer com que se lembrasse dos nossos momentos, dos nossos pactos e sonhos, das nossas conquistas, da parceria, da cumplicidade, do desejo, mas nada, ele estava certo do que queria. Tão certo que se constrangia, visivelmente, com aquela situação.
- Você sofre porque me ama, eu dizia - porque não quer se afastar de mim. Ele ficava mudo porque sabia que não, ele sofria exatamente porque não me queria mais, mesmo com toda cumplicidade, parceria, sonhos,
pactos, conquistas, desejo. Às 10h30 ele saiu, estávamos exaustos. Me joguei na cama. Era um dia de primavera. Fechei os olhos enquanto lágrimas escorriam pelo rosto. Rememorei os quase quatro anos ao lado daquela criatura. Às vezes suspirava para secar aquele rio insistente brotando dos meus olhos. Tudo doía, o peito, os olhos, as mãos, o céu também doía e as ruas, as esquinas, a minha vida, tudo amargava em minha boca.
Na segunda-feira a vida continuou. Fui trabalhar e me vi, por alguns segundos, com um andar tão lânguido, os olhos inchados, os ombros caídos, as lágrimas iminentes, era tudo tão bonito, que me encantou. Continuei sofrendo, na terça, na quarta, na quinta, na sexta. Foram incontáveis telefonemas e lágrimas querendo compreender porque o namoro havia findado. Não tinha explicação plausível que me convencesse. Escrevi -lhe uma carta. Nas linhas tinham promessas que eu jamais poderia cumprir, mas cá entre nós, um drama bem feito pode gerar frutos.
E assim foi. Uma semana depois a semente tinha germinado. O "querido" havia se arrependido. Curtir a vida, solteiro, como ele previra, duas semanas antes, não era lá essa maravilha que lhe tinham propagado. E ele reapareceu. Dessa vez era ele quem implorava uma segunda chance. Titubeei, mas pensei com meus botões: se ele te abandonou uma vez, vai fazer uma segunda. Vale a pena? você o ama? eram questões que giravam na minha cabeça.
Então eu disse não. A dor provocada por aquele menino fez com que eu visse uma jovem mulher vivendo, tão digna em sua dor, tão firme em seus propósitos, que pude sentir alegria, alegria de viver, com todos os ganhos e perdas, com todos os conflitos e contradições que estar vivo implica. E segui minha vida. Solteira.