Porque hoje é domingo, dia de
solidão no 501, quase véspera de um reencontro, me deu uma vontade danada de dizer alguma coisa,
qualquer coisa, sobre paternidade. N
ão sei nada sobre SER mãe ou pai; minha
experiência se limita a TER pai e mãe. Do alto dos meus 38 anos, ainda imaturos,
só posso dizer que não deve ser fácil ser pai ou mãe de alguém ( ser filho
também não é tarefa das mais simples). Imagino o que se passa pela cabeça e
pelo coração de alguém, quando descobre que vai , para sempre, influenciar
diretamente a vida de uma pessoa que nem conhece cuja companhia não tem direito
de escolher.
Porque pai e mãe não escolhem o
filho que terão, não decidem se aquela pessoa será interessante e divertida,
não podem simplesmente se cansar de um filho chato e arranjar outro, assim como
fazemos com amigos,amores, conhecidos. Ter um filho, me parece, é como dar um
tiro no escuro, é fazer um contrato de amor vitalício, pra sempre, sem
garantias.
Uma coisa que aprendi nesses
últimos tempos e que vale para todas as nossas relações é que não se pode
esperar o tempo ajeitar tudo. Uma vez, me disseram que eu entenderia muitas
coisas quando crescesse, quando fosse adulta. Pois é, a gente entende mesmo. A
gente cresce e entende que nossos pais são de carne e osso feito a gente.
Erram, acertam, choram, se cansam como todo mundo. A gente aprende a entender
isso; busca aprender a perdoar seus erros e a compreender suas dores porque
também temos as nossas dores e os nossos erros.
Então, chega um tempo que o amor
e o afeto prevalecem, de alguma forma. Há casos, porém, em que o entendimento
vem, mas alguns espaços nunca são preenchidos de fato. Porque há conceitos que
não brotam assim do nada, só porque a gente quer. Acho que o amor tem que ser um processo
vitalício, tanto quanto vitalício é o registro de um nome numa certidão de
nascimento.
Se eu pudesse dizer algo para
todos os pais agora, eu sugeriria que nunca negligenciem as pessoas que amam. É
um clichê, eu sei, mas funciona. Ainda que a gente não saiba ser maduro,
coerente; por mais que a gente faça coisas erradas, vale a pena não ser
egoísta. Pode não evitar sofrimento, estresse, anos de terapia, mas garante a
vitalidade de laços indispensáveis.
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