terça-feira, 30 de julho de 2013

Altos e baixos...

Faz tempo, tanto tempo, que eu nem lembro quando foi a última vez, que eu me senti assim, num estado embrionário, como se fosse um feto bem encolhido, guardando todas as energias para o nascimento. Como eu já nasci, suponho que seja um renascimento, no sentido figurado, claro. Sempre vejo a vida como uma sucessão de levantes e declínios em períodos mais ou menos longos, instáveis, imprevisíveis e aleatórios provocados por eventos de ordem universal e incompreensível. Partindo do princípio clichê da montanha russa, como metáfora para a vida, com altos e baixos, momentos bons e ruins, eu tenho considerações a fazer. 

No caso da montanha russa, os altos e baixos querem dizer justamente o oposto da própria definição: o alto da montanha russa é o marasmo e a inércia, e a descida da montanha é a adrenalina e a emoção. Isso significa que essa metáfora pra vida serve apenas se pensarmos que "o alto da montanha" (felicidade, realização, amor, paz, etc) é o ponto de inércia do ser humano e que, por isso, "a descida da montanha" só pode ser a própria vida, em si, em todas as dimensões do sofrimento, do desespero, a atividade emocional e, por isso, da emoção. 

O que eu quero dizer com isto tudo, mesmo que eu não esteja conseguindo me fazer entender (ou estou?), é que a felicidade/realização/etc é o estado de latência/plenitude embrionária no qual eu me encontro, lá no topo da montanha russa, aquele ponto de conforto e acomodação que precede a descida, e isso pode parecer interessante afinal não é a felicidade o que todos nós buscamos? É, seria, se não fosse a inércia óbvia dos meus pensamentos, o marasmo emocional,
a preguiça com que se arrastam os meus dias e uma felicidade solitária, desbotada e sem fim que só pode ser alimentada com séries no computador, livros e silêncio.

Com certeza a descida está próxima e em algum momento inesperado eu serei arremessada contra o vento, sentindo o estômago colar nas costas, os pulmões doerem invadidos de ar, e a angústia de todos os sentimentos esquecidos vão brotar na minha boca como um grito, me trazendo a um novo ponto de partida.

domingo, 14 de julho de 2013

Laços...

Porque hoje é domingo, dia de solidão no 501, quase véspera de um reencontro, me deu  uma vontade danada de dizer alguma coisa, qualquer coisa, sobre paternidade. N
ão sei nada sobre SER mãe ou pai; minha experiência se limita a TER pai e mãe. Do alto dos meus 38 anos, ainda imaturos, só posso dizer que não deve ser fácil ser pai ou mãe de alguém ( ser filho também não é tarefa das mais simples). Imagino o que se passa pela cabeça e pelo coração de alguém, quando descobre que vai , para sempre, influenciar diretamente a vida de uma pessoa que nem conhece cuja companhia não tem direito de escolher.
Porque pai e mãe não escolhem o filho que terão, não decidem se aquela pessoa será interessante e divertida, não podem simplesmente se cansar de um filho chato e arranjar outro, assim como fazemos com amigos,amores, conhecidos. Ter um filho, me parece, é como dar um tiro no escuro, é fazer um contrato de amor vitalício, pra sempre, sem garantias.

Uma coisa que aprendi nesses últimos tempos e que vale para todas as nossas relações é que não se pode esperar o tempo ajeitar tudo. Uma vez, me disseram que eu entenderia muitas coisas quando crescesse, quando fosse adulta. Pois é, a gente entende mesmo. A gente cresce e entende que nossos pais são de carne e osso feito a gente. Erram, acertam, choram, se cansam como todo mundo. A gente aprende a entender isso; busca aprender a perdoar seus erros e a compreender suas dores porque também temos as nossas dores e os nossos erros.

Então, chega um tempo que o amor e o afeto prevalecem, de alguma forma. Há casos, porém, em que o entendimento vem, mas alguns espaços nunca são preenchidos de fato. Porque há conceitos que não brotam assim do nada, só porque a gente quer.  Acho que o amor tem que ser um processo vitalício, tanto quanto vitalício é o registro de um nome numa certidão de nascimento.


Se eu pudesse dizer algo para todos os pais agora, eu sugeriria que nunca negligenciem as pessoas que amam. É um clichê, eu sei, mas funciona. Ainda que a gente não saiba ser maduro, coerente; por mais que a gente faça coisas erradas, vale a pena não ser egoísta. Pode não evitar sofrimento, estresse, anos de terapia, mas garante a vitalidade de laços indispensáveis.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Ciclos...

Era final julho de 2005. Fazia muito frio, mas eu pouco me importei com a temperatura. Queria mesmo era recomeçar minha vida profissional. Depois de nove anos em Joaçaba, era hora de partir. Com dedicação escolhi minha nova morada, na nova cidade que ira me acolher: Videira. Não sofri por deixar Joaçaba. Não sofri porque o namorado da época continuaria morando lá e eu cá. Estava feliz e determinada a enfrentar a nova cidade e o novo trabalho, mesmo sabendo que tinha tempo marcado, cerca de dois anos.

Escolhi cada detalhe da nova casa que seria só minha. Comprei móveis novos, utensílios domésticos, objetos de decoração. Arrumei meu cantinho e fui feliz com as visitas semanais do meu amor. Também amei meu novo trabalho e passei a construir aqui na Capital da Uva, novos capítulos da minha história. 

Desde então, alguns anos se passaram. Neste mês, o ciclo de oito anos se completa. Dos 30 anos pulei para os 38. É um tempo considerável. Nesse período o namoro acabou e o amor se dissipou. Nunca mais o encontrei e creio que também não o tenha procurado com a atenção que ele merece. Engana-se quem pensa que por conta disso fui infeliz. Muito pelo contrário. Conheci muita gente bacana. Me enamorei. Fiz amigos. Mudei novamente de emprego.Cresci profissionalmente. Estudei. Sofri de saudades da minha família que mora longe. Mas estou mais madura. Estou feliz. 

 O futuro será aqui? Bah! Não me façam pergunta difícil. A única certeza que tenho é que eu gostaria de estar mais perto dos meus e principalmente que sei que Deus está no controle de tudo. E Ele só vai me levar para onde eu mereça.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Era primavera...

Eu já estive apaixonada quatro ou cinco vezes na  vida e não posso afirmar, com precisão, se um dia já amei um homem verdadeiramente. No fundo eu acho que não. Mas como saber o amor ?
Das paixões, eu creio que me lembre, pelo modo como terminaram. Doloridamente. Nem todas, mas algumas doeram muito. Doeram alma e corpo.  Talvez tenham sido aquelas em que entrei com a bunda e meus "amados" com o pé, para tornar o "fora", mais humorado.

Algumas delas nem me lembro mais porque doeram tanto e as que me lembro, posso assegurar que a lembrança não é por apego, só é porque não temos o poder de apagar nossa memória com uma borracha imaginária.

Era primavera em Videira...

Às oito de um sábado ele tocou a campainha e eu não imaginava o desfecho. Tudo parecia normal, cheio de idas e vindas, como sempre, mas com final feliz. Já estávamos juntos havia quase quatro anos e eu conhecia os movimentos que, aos finais de semana o levavam e o traziam de volta. Mas aquele dia foi diferente, ele estava determinado, frio, com um olhar vazado, quase nulo, e, por mais que eu tentasse trazê-lo de volta daquele fundo onde parecia ter se escondido, eu não conseguia. 

Passamos a metade da manhã conversando, encerrando aquela história que nos parecia interminável. Tentei fazer com que se lembrasse dos nossos momentos, dos nossos pactos e sonhos, das nossas conquistas, da parceria, da cumplicidade, do desejo, mas nada, ele estava certo do que queria. Tão certo que se constrangia, visivelmente, com aquela situação. 

- Você sofre porque me ama, eu dizia -  porque não quer se afastar de mim. Ele ficava mudo porque sabia que não, ele sofria exatamente porque não me queria mais, mesmo com toda cumplicidade, parceria, sonhos, pactos, conquistas, desejo. Às 10h30 ele saiu, estávamos exaustos. Me joguei na cama. Era um dia de primavera. Fechei os olhos enquanto lágrimas escorriam pelo rosto. Rememorei os quase quatro anos ao lado daquela criatura. Às vezes suspirava para secar aquele rio insistente brotando dos meus olhos. Tudo doía, o peito, os olhos, as mãos, o céu também doía e as ruas, as esquinas, a minha vida, tudo amargava em minha boca. 

Na segunda-feira a vida continuou. Fui trabalhar  e me vi, por alguns segundos, com um andar tão lânguido, os olhos inchados, os ombros caídos, as lágrimas iminentes, era tudo tão bonito, que me encantou. Continuei sofrendo, na terça, na quarta, na quinta, na sexta.  Foram incontáveis telefonemas e lágrimas querendo compreender porque o namoro havia findado. Não tinha explicação plausível que me convencesse. Escrevi -lhe uma carta. Nas linhas tinham promessas que eu jamais poderia cumprir, mas cá entre nós, um drama bem feito pode gerar frutos.

E assim foi. Uma semana depois a semente tinha germinado. O "querido" havia se arrependido. Curtir a vida, solteiro, como ele previra, duas semanas antes, não era lá essa maravilha que lhe tinham propagado. E ele reapareceu. Dessa vez era ele quem implorava uma segunda chance. Titubeei, mas pensei com meus botões: se ele te abandonou uma vez, vai fazer uma segunda. Vale a pena? você o ama? eram questões que giravam na minha cabeça.

Então eu disse não. A dor provocada por aquele menino fez com que eu visse uma jovem mulher vivendo, tão digna em sua dor, tão firme em seus propósitos, que pude sentir alegria, alegria de viver, com todos os ganhos e perdas, com todos os conflitos e contradições que estar vivo implica. E segui minha vida. Solteira.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Inspiração...

Como você tem agido na sua vida? Em todos os sentidos. Os pessoais, os profissionais e os interpessoais?
Essas são perguntas que tem me tirado o sono nos últimos tempos, porque tenho uma certeza muito grande que Deus não me criou para ser apenas a Silvia que venho sendo. Certamente Ele espera mais de mim, afinal me fez única. Não há nenhuma outra criatura, na face da terra, que seja igual a mim. Então, será que os rumos que eu tenho dado pra minha vida são dignos do direito de "personalização" que Deus me deu?

Sinceramente, eu acredito estar muito aquém das expectativas que Deus tem comigo. E não falo em fazer a diferença no universo e receber o Nobel da Paz. Não, não é nada disso. É fazer a diferença no meu contexto. No contexto que me abriga. Já houve um tempo em que eu queria passar despercebida. Queria ficar escondidinha. E assim fiquei. Mas ser morna é muito frustrante. Quero ser fogo. Labareda. Servir de inspiração. Não como modelo de algo, porque cada um carrega sua singularidade. Mas tem pessoas que nos inspiram. Pessoas que exalam o perfume da fé e da vida em sua plenitude, com dores e alegrias.

Para trilhar esse caminho, eu já sei que
é preciso ter dedicação, serenidade, mansidão. É preciso ter consciência que há conseqüências na vida que não têm volta. Há planos que não podem ser refeitos. Há sonhos que não podem ser sonhados novamente. Há perdas que não têm restituição. Há prejuízos sem volta e há oportunidades que são perdidas para sempre.