sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

13.11.07- Por Deus

Era meia noite e trinta e cinco do dia 10 de novembro, quando embarquei no ônibus da Reunidas que fazia a linha Joaçaba a Curitiba. Levada a Rodoviária de Videira pelo Luis Fernando e pelo Iaran depois de um delicioso encontro do G6, fiz até pose para entrar no ônibus, já que o Iaran disparava um flash atrás do outro.

Como de costume, assim que entrei no buzão liguei o MP3 e me preparei para fechar os olhos e dormir. Fui interrompida pelo rapaz do lado por algum motivo que não me lembro e aproveitei para pedir desculpas a ele pelo cheiro de fumaça de churrasco que eu estava exalando.

Dei um sorriso e virei para o lado. Antes mesmo de chegar a Fraiburgo eu já ressonava. Não sou de descer nas paradas do ônibus pra comer ou fazer xixi. Durmo em toda a viagem. No entanto, sempre acordo quando o motorista abre a portinhola e grita: 15 minutos para o lanche! Aí é que eu durmo mesmo! Nem vi o pessoal entrando no ônibus após fazer a boquinha da madrugada.

A viagem seguiu e, menos de meia hora depois dessa parada fui acordada . Nem me lembro se pelo grande barulho, já que mantinha o MP3 ligado ou pelo impacto do ônibus tombando, os vidros quebrando, o mato e a terra invadindo nosso espaço. A primeira impressão que tive é que o ônibus tinha batido em uma parede, num túnel , sei lá.

Quando outros passageiros começaram a cair sobre mim, juntamente com suas bagagens e percebi que estava deitada na terra e na grama, misturadas com um monte de vidro, percebi que algo grave tinha acontecido.

E foi exatamente essa expressão que o Clic RBS usou para noticiar o acidente: O acidente mais grave ocorreu em Itaiópolis, Norte do Estado, às 4h30min, entre um ônibus e um carro com placas de São Paulo. Três pessoas morreram e sete ficaram feridas. O choque frontal entre o ônibus da Empresa Reunidas, com placas de Caçador, que fazia a linha Joaçaba/Curitiba e o Ford Fusion resultou na morte dos três ocupantes do veículo de São Paulo.

Com o impacto da colisão, no Km 43,2 da BR-116, os caroneiros, Maria Imaculada Pereira Rodrigues, 45 anos, e Orlando Gomes dos Santos, 36 anos, morrem no local do acidente. O condutor do veículo, Acácio Rodrigues, faleceu a caminho do hospital de Mafra. Sete passageiros que estavam no ônibus ficaram feridos e foram encaminhados para o hospital.

O chapecoense, Eduardo Zanchet, ficou gravemente ferido. Até não sair do ônibus tombado não tinha noção da gravidade deste acidente. Ainda lá dentro, além dos gritos e do choro compulsivo da mulher grávida que estava atrás de mim ouvia a voz de um rapaz que gritava: - Não de mexam. Não sabemos onde o ônibus caiu e podemos estar numa ribanceira.

Do outro lado alguém gritou que o ônibus poderia incendiar e começou desesperadamente a procurar a saída de emergência. (mais tarde descobrimos que a saída de emergência poderia ser acessada, após encontrarmos um martelo, envolto num plástico e emparafusado na lateral do ônibus). Coisa impossível de se fazer no meio da escuridão total, convenhamos.

Que tal aquelas saídas com uma alavanca apenas? O desesperado quebrou um dos vidros com chutes, mas antes disso alguém arrebentou a janela de ventilação no teto e foi por ali que a maioria de nós saiu. Como estava por baixo de muita gente, já que todos os passageiros do lado direito caíram sobre nós , fui uma das últimas a sair.

Na minha frente o único passageiro ferido gravemente com um galho de árvore que entrou em seu corpo parecia sereno. Mais tarde descobri que ele era um médico. Ao saltar pela janelinha do ônibus com a ajuda de outros passageiros, percebi que algo muito ruim tinha acontecido. Um carro estraçalhado do outro lado da pista dava a impressão de que outro acidente além do nosso tinha ocorrido. Não dava pra acreditar.

As primeiras lágrimas de desespero então saíram dos meus olhos. Pensei na família de quem estava ali esmagado. Agradeci a Deus por ter me poupado. Tive vontade de ajoelhar no meio do asfalto e agradecer. Foram momentos de pânico, nunca antes mensurado por mim. A escuridão amedronta ainda mais e, abençoados foram os celulares que iluminaram nossas primeiras reações dentro daquele ônibus. Duas horas e meia depois deixávamos aquele local em um outro ônibus.

Mas antes de saírmos o rapaz que estava ao meu lado (Diego Bressan – um videirense que mora em Curitiba), levantou-se, foi até a frente e pediu se podia orar e agradecer pelo livramento que Deus tinha nos concedido. Ele foi tão corajoso em falar no nome do Pai. Pediu que todos nós repetíssemos a oração e ninguém hesitou.

Foi um momento lindo de paz com Deus. Ao retornar para o meu lado agradeci ao Diego por não acovardar-se diante do Pai.

6 comentários:

  1. é e la no carro eram meus pais.....
    dia 10/11/2007 pior que o seu dia =/
    perdi meus pais ." mto pior que estar em um onibus e ficar vivo...
    Deus livrou vc e mtos outros..
    o medicoo processou nós aqui eu e meus irmãos.
    mas Deus ira cobra- lo. acredite pior dia de minha vida.....
    minha mãe e meu pai se foi neste dia =/

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  2. meu nome é Fernando desculpe não me indentificar

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  3. Fernando querido..... imagino tua dor e lamento pelo ocorrido...pensei exatamente em vcs no dia do acidente, ou seja, na família daquelas vítimas.
    Lamento tbm o oportunismo do médico, como pode ter uma atitude dessas? mas no fim das contas não me surpreendo porque naquele dia, enquanto seus pais ainda estavam entre as ferragens os passageiros brigavam por suas malas, como se elas fossem mais iomportantes que as vidas que tinham se perdido.
    Desejo que Deus te abençoe muito e que traga sempre conforto pela morte dos seus pais. Um abraço grande.....

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  4. Era minha irmã e meu cunhado maravilhoso. Não superei a morte deles até hoje. que dor.
    Meu Deus, porque?

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  5. Sou Marli irmã da Maria e cunhada do Acácio.

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  6. Eu estava nesse ônibus. O que mais recordo é o descaso como nos trataram.
    Um ônibus cheio, além dos passageiros lembro de crianças não pagantes de passagens.
    Tive a mesma sensação que vc, um clarão, logo dps eu estava caída no barro, em meio a cacos de vidro, grama, lama, bagagens e pior, pessoas.
    Os gritos das pessoas ainda ecoam, como se fosse hoje.
    A pessoa desesperada para sair, o rapaz que estava preso no ônibus, que estava sentado reto comigo, porém do outro lado do corredor que pedia para não esquecer dele e chorava.
    Gritos vindo de toda a parte.
    Até chegar um ônibus, senão me engano da Princesa dos Campos, onde os passageiros e motorista foram os primeiros a nos ajudar.
    Com uma lanterninha, um martelo e mto boa vontade quebraram todo o para-brisa e foi por ali que eu sai.
    Lembro que a maioria das pessoas, assim como eu estavam ansiosa. Iriam fazer o concurso do TRT do Paraná, guardando os comprovantes de inscrição nas malas onde julgavam mais seguro, até ouvir que as malas deveriam ser deixadas ali.
    E todos nós, jogados na beira do asfalto, esperando só esperando isso, até que alguém foi até o caminhão de bombeiros, onde os corpos estavam sendo retirados emprestou uma ferramenta e ali fizemos uma corrente humana para pegar as malas. A adrenalina tão alta que não sentimos dor, cansaço nada.
    Lembro do descaso da Reunidas como se fosse hoje, onde simplesmente nos mandaram um ônibus que nem água tinha dps do que tínhamos passado, e um motorista que parou na frente do hospital em Mafra e disse quem tá com dor fica aí, sem nenhuma assistência.

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